Mudanças geopolíticas, desafios climáticos e o futuro da transição energética
Artigo escrito por Fernando De Lapuerta, CEO e diretor presidente da Statkraft Brasil. Conteúdo publicado no Canal Energia.
Vivemos em uma época de transformações sem precedentes, onde eventos geopolíticos e desafios climáticos estão redefinindo o nosso mundo de maneira profunda e ampla. As principais tendências que moldam o cenário global atual, incluindo os conflitos centrais – que alteram as relações entre nações e geram incertezas - e o aumento de eventos climáticos extremos, impactam diretamente no processo de transição energética mundial.
A frequência de eventos climáticos extremos tem sido cada vez maior e com consequências ainda mais graves. Em 2023, registros de temperaturas elevadas, secas e fortes chuvas causaram incêndios florestais e inundações devastadoras. Inclusive, cientistas do observatório europeu Copernicus já alertaram que 2023 deve terminar como o ano mais quente em 125 mil anos. Esses eventos são um lembrete urgente dos efeitos das mudanças climáticas e destacam a necessidade de ação imediata.
Todas essas circunstâncias e suas consequências foram analisadas na oitava edição do relatório anual Low Emissions Scenario, documento produzido pela Statkraft, que analisa diretrizes, tendências e trajetórias da transição energética global até 2050.
Apesar do impacto que a incerteza global causa na transição energética é inegável a influência da expansão das energias renováveis de forma mundial. São três os pilares essenciais necessários para navegarmos essa transição: o desenvolvimento de energias sustentáveis e renováveis, combinado à eficiência energética e a segurança no fornecimento de energia.
Por conta desse contexto incerto, inserimos mais dois cenários adicionais na nossa análise desta edição. O cenário "Disputa Clean Tech", que sugere uma transição mais protecionista nos EUA, União Europeia e China, enquanto o "Atraso na Transição" reflete uma transição mais lenta por conta da pouca atenção aos assuntos climáticos em tempos de aumento de conflitos e custo de vida. No entanto, em todos os cenários, a análise aponta para uma continuação da transição energética em um ritmo relativamente elevado.
A acessibilidade das energias renováveis, como solar e eólica, está transformando a produção e o consumo de energia. As projeções indicam que essas fontes renováveis continuarão a superar as tecnologias fósseis. Com o aumento dos preços dos combustíveis fósseis, estas tecnologias conseguiram manter a sua competitividade apesar da inflação.
O Low Emissions Scenario continua a ser um cenário otimista, mas realista, em grande parte impulsionado por uma tendência mais forte a favor das energias solar fotovoltaica e eólica do que nos anos anteriores. Em nosso estudo, os avanços tecnológicos, dinâmica de mercado e políticas proativas alinham-se para impulsionar a transição para a energia limpa.
O estudo prevê ainda que as energias renováveis atenderão mais de 80% da demanda global de energia em 2050, com uma profunda eletrificação de edifícios, transporte e indústria. Isso é crucial para limitar o aquecimento global a -2 graus.
Para acelerar a transição energética, devemos expandir estratégias comprovadas e focar na triplicação da capacidade renovável, uma das pautas que deverão ser debatidas na COP28. Além disso, é fundamental estender a transição energética para regiões com acesso limitado a recursos, onde a demanda de energia está crescendo.
Importante destacar também que, além da crise climática, o mundo enfrenta desafios ecológicos adicionais, incluindo a perda de ecossistemas e de biodiversidade, bem como a poluição. Por isso, diante desse momento crítico da história, onde enfrentamos desafios globais, o que concluímos é que a transição energética é essencial para mitigar as mudanças climáticas e a colaboração global é fundamental em todas as frentes. Um cenário de baixa emissões está ao nosso alcance, mas apenas se agirmos de maneira decisiva e coordenada. O futuro da transição energética está intrinsecamente ligado às decisões que tomamos hoje. É uma jornada que exige empenho, inovação e cooperação global para alcançarmos o objetivo que precisamos: um futuro net zero.
Fernando De Lapuerta
Diretor Presidente da Statkraft Brasil